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Monitoramento de cruzeiros de pesca revela dados sobre diferentes tipos de captura incidental de tartarugas

08/08/2016 - Informações sobre interação entre as pescarias e as espécies ameaçadas. Leia mais. ↓

Monitoramento de cruzeiros de pesca revela dados sobre diferentes tipos de captura incidental de tartarugas

Observador de bordo Caiame Januário

Somente através do embarque de observadores de bordo é possível conseguir informações detalhadas e precisas sobre a interação entre as pescarias e as espécies ameaçadas, que servem de base para novos estudos e propostas de ações de conservação para as tartarugas marinhas. Entre 2014 e 2016, as instituições IPCMar (Instituto de Pesquisa e Conservação Marinha), CEPSUL (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da biodiversidade Marinha do Sudeste e Sul), Projeto Albatroz e NEMA (Núcleo de Educação e Monitoramento Marinho), com apoio do Projeto TAMAR, monitoraram as capturas de tartarugas marinhas e outras espécies ameaçadas em 17 cruzeiros de pesca comercial. Foram capturadas tartarugas marinhas de quatro espécies: tartaruga-cabeçuda, tartaruga-oliva, tartaruga-verde e tartaruga-de-couro.

As pescarias foram classificadas de acordo com suas características e, ao todo, seis (06) foram monitoradas neste período: Espinhel modelo Americano Sul e Sudeste (EAS); Espinhel modelo Itaipava para Dourado (EID); Espinhel modelo Itaipava para Meca (EIM); Rede de Emalhe de fundo para Corvina (REC); Rede de Arrasto para Peixes (RAP) e Rede de Arrasto de Parelha (figura 1).


Figura 1. Lances de pesca monitorados por observadores de bordo entre 2014 e 2016. (Fonte de dados: TAMAR, IPCMar, CEPSUL, Projeto Albatroz e NEMA).

Embora algumas pescarias ocorram na mesma área, as espécies de tartarugas e classes de tamanho capturadas podem variar, dependendo dos equipamentos e métodos usados. Por exemplo, como explica o biólogo marinho do TAMAR, Bruno Giffoni, as pescarias Rede de emalhe para corvina, Rede de arrasto para peixe e Rede de arrasto de parelha atuaram mais próximas à costa no litoral de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (13 a 440m de profundidade). No entanto, apenas o arrasto de parelha interagiu com tartarugas-cabeçuda (Caretta caretta) juvenis e adultas, além de capturar também algumas tartarugas-verde (Chelonia mydas) juvenis. A rede de emalhe para corvina teve apenas um cruzeiro de pesca monitorado e não capturou nenhuma tartaruga, e a rede de arrasto para peixe capturou somente tartarugas-verde juvenis.

As pescarias de espinhel, em geral, ocorrem em regiões oceânicas mais profundas (até 3.800m de profundidade), porém também podem operar em áreas mais próximas à costa. O Espinhel modelo americano Sul e Sudeste já é conhecido pela grande interação com as tartarugas-cabeçuda juvenis, e capturou o maior número destes animais nos cruzeiros monitorados. Também foi esta a pescaria que interagiu com o maior número de espécies de tartarugas, quatro das cinco que ocorrem no Brasil. Além das tartarugas-cabeçuda, também capturou tartarugas-verde, tartarugas-de-couro (Dermochelys coriacea) e tartarugas-oliva (Lepidochelys olivacea). Para a conservação desses animais ameaçados de extinção, é importante compreender as diferenças da captura incidental de tartarugas por espécie e por estágio de desenvolvimento, complementa o biólogo do TAMAR.

Tartarugas marinhas e a pesca – O TAMAR iniciou a proteção das tartarugas marinhas em terra, em 1980, e a partir dos anos 90, começou a trabalhar com a pesca incidental em áreas de alimentação de tartarugas marinhas. Desde 2001, executa o Programa Interação Tartarugas Marinhas e Pesca para enfrentar a mortalidade desses animais causada pelas diferentes pescarias. O programa inclui diversas ações junto às frotas de espinhel de superfície (sul e sudeste) e de arrasto (nordeste). Realiza embarques de observadores para monitoramento e implementação de medidas mitigadoras (anzol circular, desenganchador de anzol e cortador de linha) para reduzir a captura e a mortalidade das tartarugas. Os pesquisadores trabalham em interação direta com os pescadores. Constantemente, são realizadas entrevistas com mestres das embarcações para caracterização das pescarias e compartilhamento de informações. Os resultados dos testes com o anzol circular, por exemplo, são divulgados através de vídeos, palestras e conversas com os pescadores.

Projeto Tamar - Criado há 35 anos, o Projeto TAMAR é uma soma de esforços entre a Fundação Pró-Tamar e o Centro Tamar/ICMBio. Trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). Protege cerca de 1.100 quilômetros de praias e está presente em 25 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Reconhecido internacionalmente como uma das mais bem sucedidas experiências de conservação marinha do mundo, seu trabalho socioambiental, desenvolvido com as comunidades costeiras, serve de modelo para outros países. O Projeto TAMAR tem o patrocínio oficial da Petrobras, através do programa Petrobras Socioambiental, e nos nove estados brasileiros onde atua recebe diversos apoios locais.

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