26/05/2015 - É fundamental para obter bons resultados de conservação entender como as tartarugas podem servir de indicadores para avaliar tendências de mudanças climáticas. Leia mais. ↓
As tartarugas marinhas conviveram com os dinossauros e conseguiram sobreviver a todas as mudanças que ocorreram no planeta. Já enfrentaram climas muito mais quentes e também mais frios que os atuais. Muito sensíveis a mudanças na temperatura, são consideradas sentinelas para avaliação da qualidade do ambiente e das transformações no clima. Pesquisar e entender como as mudanças climáticas podem impactar no ciclo de vida desses animais ameaçados de extinção é tema relevante para a ciência atualmente.
Diferente das aves, que permanecem no ninho chocando os ovos, as tartarugas marinhas precisam colocar seus ovos na areia de praias tropicais para que o calor do sol os incube. A temperatura do ninho deve estar entre 24 e 33°C, uma vez que abaixo ou acima dessa faixa os embriões não se desenvolvem. É por isso que no Brasil praticamente não há desovas de tartarugas marinhas na região sul do país, sendo encontradas desovas regulares somente a partir do litoral do Rio de Janeiro rumo ao norte.
Definição do sexo - Assim como acontece com outros répteis, o sexo da tartaruga marinha depende da temperatura do ninho durante a incubação, um período que varia em média entre 45 e 60 dias, desde a postura até o nascimento. A definição do sexo acontece em um momento específico, o período termossensitivo, geralmente no segundo terço da incubação. Por volta de 29 °C, temperatura conhecida como pivotal, é produzida cerca de metade dos filhotes fêmeas e a outra metade machos. Acima de 29 °C mais fêmeas são geradas, podendo chegar a 100% de fêmeas próximo dos 33 °C. Gradativamente, à medida que a temperatura diminui, o número de machos aumenta, podendo chegar a gerar 100% de machos em cenários perto de 24 °C.
As tartarugas-de-pente - No Brasil, as duas principais áreas de desova das tartarugas-de-pente (Eretmochelys imbricata) estão localizadas no litoral norte da Bahia e no litoral do Rio Grande do Norte. Pesquisadores já identificaram uma alta produção de fêmeas na Bahia (96%) e também no Rio Grande do Norte (89%) em ninhos monitorados. Como explica a coordenadora de Conservação e Pesquisa do Projeto Tamar, Neca Marcovaldi, por enquanto o que se sabe dessa diferença entre as duas localidades é que pode estar relacionada com a sazonalidade reprodutiva, sendo que na Bahia a temporada de desova começa mais cedo, pegando a época do verão mais forte, e também com o fato dos ninhos ficarem localizados em áreas mais abertas e expostas ao sol. No Rio Grande do Norte, a temporada começa um pouco mais tarde, as praias estudadas são cercadas por falésias que projetam sombra à tarde e apresentam estreita faixa de areia, deixando os ninhos bem próximos da linha da maré, fatores que podem contribuir para amenizar a temperatura. Um estudo recente realizado com série histórica de 27 anos de dados, em algumas áreas analisadas, não demonstrou diferenças significativas no tempo de incubação dos ovos, indicando não haver tendência potencial de mudança climática até então nessas áreas para a espécie Eretmochelys imbricata, afirma a coordenadora.
A continuidade da pesquisa científica, além de relevante indicador sobre as mudanças climáticas, auxilia a conservação das tartarugas marinhas, pois permite acompanhar parâmetros para avaliar a viabilidade de uma população e eventualmente realizar estratégias de manejo para proteger as espécies.
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