17/11/2023 - Pesquisadores avaliaram a capacidade das tartarugas marinhas de alterar o período reprodutivo em 24 áreas de desova ao redor do mundo em resposta ao aumento da temperatura global. ↓
A determinação sexual de tartarugas marinhas é definida pela temperatura em que os ovos são incubados na areia da praia. De modo geral, ninhos incubados em temperaturas mais baixas geram maior quantidade de machos, enquanto temperaturas mais altas geram mais fêmeas. Além disso, extremos de temperatura também reduzem a quantidade de filhotes que nascem de cada ninho. Com as projeções de aumento de temperatura global para as próximas décadas, há grande preocupação sobre o que pode ocorrer com a proporção de machos e fêmeas nas populações de tartarugas marinhas, assim como a quantidade de filhotes que nascem anualmente ao redor do mundo.
Um estudo publicado no mês passado no jornal científico Global Change Biology, que contou com a participação de pesquisadores da Fundação Projeto Tamar, buscou entender se as tartarugas marinhas teriam a capacidade de se ajustar às mudanças de temperatura apenas mudando o período reprodutivo. As tartarugas marinhas tendem a desovar durante os meses mais quentes do ano. A pesquisa discute a possibilidade de os animais utilizarem a mudança de período de reprodução como possível estratégia de sobrevivência da espécie. O artigo analisa e discute através de simulações de computador o que aconteceria se as fêmeas começassem a desovar em meses mais frios.
O estudo usou como base dados de 24 áreas de desova ao redor do mundo sobre as espécies tartaruga-verde, tartaruga-cabeçuda, tartaruga-de-pente e tartaruga-oliva. Através de dados passados de temperatura ambiental foi possível realizar projeções para o futuro. Foram estimadas as taxas de nascimento e de proporção sexual para diferentes temperaturas ambientais e as diferentes espécies. Para cerca de 50% das áreas de desova analisadas, as estimativas indicam que mesmo que as tartarugas consigam alterar o período de reprodução para meses mais frios, ainda assim haverá uma redução da taxa de nascimento de filhotes. Paulo Lara, pesquisador da Fundação Projeto Tamar e um dos autores do estudo, destaca: “Se houver uma diminuição na produção de filhotes e a maior parte nascer fêmea, há risco para a manutenção da diversidade genética e viabilidade reprodutiva das populações”. Por fim, o estudo ressalta que a mudança de período reprodutivo é apenas uma das formas como as tartarugas marinhas podem se adaptar às mudanças climáticas. Outros fatores podem contribuir para estas adaptações que ainda precisam ser melhor avaliados em estudos futuros.
A Fundação Projeto Tamar monitora cerca de 1.100 kms do litoral brasileiro, coletando dados sobre taxas de nascimento, tempo de incubação dos ninhos, predadores, e outros fatores relevantes para a sobrevivência das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil. Estudos e monitoramentos de longa duração como os realizados pela Fundação Projeto Tamar são essenciais para a identificação e mitigação de ameaças que põe em risco a recuperação destas espécies.
Se quiser ler o trabalho na íntegra, ele está disponível aqui.
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